texto 'São Paulo vai morrer'

escrito por João Whitaker
publicado em Correio da Cidadania, 26/05/2012

As cidades também morrem. Há meio século, o lema de São Paulo era “a cidade não pode parar”. Hoje, nosso slogan deveria ser “São Paulo não pode morrer”. Porém, parece que fazemos todo o possível para apressar uma morte anunciada. Pior, o que acontece em São Paulo tornou-se infelizmente um modelo de urbanismo que se reproduz país afora. A seguir esse padrão de urbanização, em médio prazo estaremos frente a um verdadeiro genocídio das cidades brasileiras.

Enquanto muitas cidades no mundo apostam no fim do automóvel, por seu impacto ambiental baseado no individualismo, e reinvestem no transporte público, mais racional e menos impactante, São Paulo continua a promover o privilégio exclusivo dos carros. Ao fazer novas faixas para engarrafar mais gente na Marginal Tietê, com um dinheiro que daria para dez quilômetros de metrô, beneficia os 30% que viajam de automóvel todo dia, enquanto os outros 70% se apertam em ônibus, trens e metrôs superlotados. Quando não optam por andar a pé ou de bicicleta, e freqüentemente demais morrem atropelados. Uma cidade não pode permitir isso, e nem que cerca de três motociclistas morram por dia porque ela não consegue gerenciar um sistema que recebe diariamente 800 novos carros.

Não tem como sobreviver uma cidade que gasta milhões em túneis e pontes, em muitos dos quais, pasmem, os ônibus são proibidos. E que faz desaparecer seus rios e suas árvores, devorados pelas avenidas expressas. Nenhuma economia no mundo pode pretender sobreviver deixando que a maioria de seus trabalhadores perca uma meia jornada por dia – além do duro dia de trabalho – amontoada nos precários meios de transporte. Mas em São Paulo tudo se pode, inclusive levar cerca de quatro horas na ida e volta ao trabalho, partindo-se da periferia, em horas de pico.

Uma cidade que permite o avanço sem freios do mercado imobiliário (agora, sabe-se, com a participação ativa de funcionários da própria prefeitura), que desfigura bairros inteiros para fazer no lugar de casas pacatas prédios que fazem subir os preços a patamares estratosféricos e assim se oferecem apenas aos endinheirados; prédios que impermeabilizam o solo com suas garagens e aumentam o colapso do sistema hídrico urbano, que chegam a oferecer dez ou mais vagas por apartamento e alimentam o consumo exacerbado do automóvel; que propõem suítes em número desnecessário, o que só aumenta o consumo da água; uma cidade assim está permanentemente se envenenando. Condomínios que se tornaram fortalezas, que se isolam com guaritas e muros eletrificados e matam assim a rua, o sol, o vento, o ambiente, a vizinhança e o convívio social, para alimentar uma falsa sensação de segurança.

Enquanto as grandes cidades do mundo mantêm os shoppings à distância, São Paulo permite que se levante um a cada esquina. Até sua companhia de metrô achou por bem fazer shoppings, em vez de fazer o que deveria. O Shopping Center, em que pese a sempre usada justificativa da criação de empregos, colapsa ainda mais o trânsito, mata o comércio de bairro e aniquila a vitalidade das ruas.

Uma cidade que subordina seu planejamento urbano a decisões movidas pelo dinheiro, em nome do discutível lucro de grandes eventos, como corridas de carro ou a Copa do Mundo, delega as decisões de investimentos urbanos não a quem elegemos, mas a presidentes de clubes, de entidades esportivas internacionais ou ao mercado imobiliário.

Esta é uma cidade onde há tempos não se discute mais democraticamente seu planejamento, impondo-se a toque de caixa políticas caça-níqueis ou populistas, com forte caráter segregador. Uma cidade em que endinheirados ainda podem exigir que não se faça metrô nos seus bairros, em que tecnocratas podem decidir, sem que se saiba o porquê, que o mesmo metrô não deve parar na Cidade Universitária, mesmo que seja uma das maiores do continente.

Mas, acima de tudo, uma cidade que acha normal expulsar seus pobres para sempre mais longe, relegar quase metade de sua população, ou cerca de 4 milhões de pessoas, a uma vida precária e insalubre em favelas, loteamentos clandestinos e cortiços, quando não na rua; uma cidade que dá à problemática da habitação pouca ou nenhuma importância, que não prevê enfrentar tal questão com a prioridade e a escala que ela merece, esta cidade caminha para sua implosão, se é que ela já não começou.

Nenhuma comunidade, nenhuma empresa, nenhum bairro, nenhum comércio, nenhuma escola, nenhuma universidade, nem uma família, ninguém pode sobreviver com dignidade quando todos os parâmetros de uma urbanização minimamente justa, democrática, eficiente e sustentável foram deixados para trás. E que se entenda por “sustentável” menos os prédios “ecológicos” e mais nossa capacidade de garantir para nossos filhos e netos cidades em que todos – ricos e pobres – possam nela viver. Se nossos governantes, de qualquer partido que seja, não atentarem para isso, o que significa enfrentar interesses poderosos, a cidade de São Paulo talvez já possa agendar o dia se deu funeral. Para o azar dos que dela não puderem fugir.

João Sette Whitaker Ferreira, arquiteto-urbanista e economista, é professor da Faculdade de Urbanismo da Universidade de São Paulo e da Universidade Mackenzie.

>> link para publicação original em Correio da Cidadania

Minhocão, 'Virada Cotidiana'

... quando a 'virada cultural' está acima.  registro em 05/05/2012

Situação permanente das vias públicas por onde passa o Elevado Costa e Silva e proximidades, que foi agravada pela 'Operação Centro Legal', ocorrida em 03/01/2012.

UMA REVIRADA!!! e o que se vê, é a migração de usuários de crack e população em situação de rua em geral, de um pilar para outro, de uma rua para outra.
A lavagem diária das ruas, e o posicionamento de base móvel da Polícia Militar, ora cá, ora lá, têm contribuído para uma 'ilha minhocão', na Av. São João, entre a rua Apa e Al. Nothmann.

Minhocão, em 05/05/2012


Minhocão, em 05/05/2012

Minhocão, palco da 'Virada Cultural'

Neste ano, o Elevado Costa e Silva, o Minhocão, é parte do roteiro da 'Virada Cultural', que acontece nos dias 05 e 06 de maio.

>> programação no Minhocão

Minhocão
Atividades criam um passeio diferenciado pelo Elevado Costa e Silva. A ocupação do minhocão pela Virada Cultural já reverbera entre os paulistanos, ansiosos por resignicar esse espaço que já recebe pedestres aos domingos.

Mercado Mundo Mix
08h00 - Mercado Mundo Mix no Minhocão

Chefs na rua - Mercado e Cultura Gastronômica
(Viaduto Presidente Costa e Silva, o “Minhocão”, Entre as Ruas Ana Cintra e Amaral Gurgel)
O mercado Chefs na Rua une a alta gastronomia com a comida de rua, oferecendo a oportunidade de saborear pratos simples feitos por Chefs famosos. São ao todo 20 barracas com Chefs convidados oferecendo pratos de r$ 5,00 a r$ 15,00.

da 00h00 às 02h00 - Alex Atala - Galinhada Dalva e Dito
das 02h00 às 06h00 - Erick Jacquin - Vinho e Sopa de Cebola
às 08h00
Dagoberto Torres - Arepas y Ceviches – Suri Ceviche Bar
Vitor Sobral / Hugo Nascimento - Bolinhos de Bacalhau e Salada – Tasca da Esquina
Marco Soares - Espetinho de Polpetini de Cordeiro – Oliva Restaurant
Renato Carioni - Hamburguer de Pato com Maionese Trufada – Restaurante Cosí
Checho Gonzáles - Choripan – Cevicheria Gonzáles
Lourdes Hernández - Tostadas y Micheladas – La Cocinera Atrevida
Carlos Ribeiro - Buraco Quente de Picadinho Campeão – Na Cozinha
Rodrigo Oliveira - Baião de Dois do Mocotó
Paula Labaki - Sanduíches de Pernil em Escabeche e de Frango Defumado – Lena Labaki Catering
Daniela França Pinto - Polenta Cremosa com Cogumelo Crocante – Marcelino Pan y Vino
Raphael Despirite - Hot Dog à Francesa – Raphael Despirite - Marcel
Danilo Rolim - Montaditos y Tapas – La Tapa Bar e Gastronomia
Janaína Rueda - Puchero à Love Story – Bar da Dona Onça
Carol Brandão - Trio de Guloseimas – Las Chicas
Henrique Fogaça - Sanduíche de Copa Lombo – Sal Gastronomia
Benny Novak - Baby Back Ribs & Sweet Corn – 210 Diner
Luiz Emanuel - Steak Tartare e Batatas Fritas – Allez, Allez!
Leandro Freitas e Henry Miguel Caceres - Sushis e Sashimi – Nakombi
Marcio Silva - Arroz de Carreteiro com Pipoca – Oryza
Heloisa Bacellar - Pão de Queijo e Bolo com Café – Lá da Venda

Help Portrait
10h00 até às 18h00 - Help Portrait – Coletivo Foco

Crie Futuros
10h00 até às 18h00 - Oficina de Criação de Futuros no Minhocão – Crie Futuros

>> veja programação completa da Virada Cultural 2012