repórteres do Jornal da Tarde registram por 24 horas o Minhocão

Minhocão, 24 horas

Um enorme viaduto liga o Centro de São Paulo à zona oeste da Capital. É o Elevado Costa e Silva, ou simplesmente, Minhocão, que completa 40 anos de existência. Para uns, a obra jamais deveria ter sido construída, pois trouxe degradação e escureceu uma região, que outrora, era composta por prédios elegantes. Outros defendem a obra, pois acreditam que o Minhocão seja um importante eixo de ligação da cidade. Polêmicas à parte, repórteres do Jornal da Tarde permaneceram por 24 horas no local. Quatro repórteres fotográficos produziram imagens do Elevado, do seu entorno e de seus personagens.






















Local vira área de lazer para os moradores da região. São Paulo, 16/01/2011. Foto: Evelson de Freitas/AE


























Turma de amigos promove um churrasco em pleno Elevado Costa e Silva, numa tarde de domingo. São Paulo, 16/01/2011. Foto: Evelson de Freitas/AE


Trabalhadores da mecânica Marques e a cadelinha Princesa que foi achada filhote em frente ao estabelecimento e criada lá mesmo. São Paulo, 18/01/2011. Foto: Tiago Queiroz/AE

>> veja as demais fotos em Estadão Blogs, publicado por Nilton Fukuda, em 25/01/2010

Minhocão, 40 anos

Minhocão: 3,4 km de extensão e 40 anos de polêmicas
Solução mais problemática que SP já concebeu, o Elevado Costa e Silva mostra nas pistas e sob as vigas cenas da realidade paulistana

fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2011

Em 1971, ao completar 417 anos, a capital paulista ganhou de presente o Elevado Costa e Silva. Desde então, discute-se se a cidade deveria tê-lo colocado de pé. Em seu primeiro dia como ligação das zonas leste e oeste, o viaduto congestionou. No dia seguinte à inauguração, o Jornal da Tarde já lançava a pergunta: "Por que o Minhocão, inaugurado ontem, será um dos problemas do trânsito de São Paulo?" Até hoje, não se sabe a resposta.

Tanto em suas quatro pistas quanto sob suas vigas, o Elevado reflete a realidade paulistana. Por cima, motoristas sofrem com congestionamentos. Na parte de baixo, comerciantes, ambulantes e pedestres convivem com moradores de rua, usuários de crack e travestis. Grafiteiros e funcionários da Prefeitura travam uma batalha: uns enchem as mais de 90 colunas de cores, os outros pintam tudo de cinza. De segunda a sábado, o viaduto recebe mais de 120 mil veículos entre as 6h30 e as 21h30. Aos domingos, vira espaço de lazer.

Ao longo do tempo, a via de 3,4 quilômetros tornou-se parte da vida da cidade. A ligação da Praça Roosevelt e da Avenida Francisco Matarazzo abriga duas estações do Metrô, terminal de ônibus e linhas 24 horas. Há banco, hotel, estacionamento, sapateiro, chaveiro, restaurante, mercado, hospital, mecânico, escola, igreja.

A lista de problemas é tão extensa quanto. Corre-se o risco de ser assaltado no carro ou nas calçadas esburacadas. O canteiro central amontoa diariamente duas toneladas de entulho. Quando chove, a água escorre do Minhocão e alaga pontos das Avenidas São João e General Olímpio da Silveira e da Rua Amaral Gurgel. Hoje a dúvida permanece: o que fazer com o presente?

Alternativas. Não se sabe como resolver o Minhocão, mas é fácil imaginar como seria a região se ele não tivesse sido erguido. Se o então prefeito da capital, Paulo Maluf, tivesse desistido de construir a via elevada, a área não teria o aspecto de abandono que tem hoje. Os prédios não teriam sofrido com a desvalorização e o comércio seria mais sofisticado.

"Não tenho a menor dúvida de que a região seria bem melhor. Toda a área por onde ele passa hoje seria uma parte nobre da cidade, como é Higienópolis. Por onde passa o Minhocão, o que se vê é abandono, degradação", afirma o arquiteto e urbanista Michel Gorski. Ele explica que a prioridade deve ser a qualidade de vida das pessoas que moram nos bairros cortados pela via. "E não a circulação do automóvel."

A principal obra de Maluf em seu primeiro mandato como prefeito de São Paulo durou um ano e dois meses. Tempo recorde. Antes mesmo da inauguração, o Minhocão já causava polêmica. Além da desvalorização dos imóveis e da instalação de marginalizados em seus baixos, discutia-se também se o elevado - considerado inseguro por especialistas - resolveria o problema do trânsito no eixo leste-oeste.

A ex-prefeita Luiza Erundina, que dirigiu a cidade entre 1989 e 1992, foi a primeira a defender a demolição do Minhocão. O fim do elevado foi pauta ainda dos governos Marta Suplicy, José Serra e, agora, Gilberto Kassab.

"É claro que existe um problema na ligação leste-oeste e que o Minhocão atendeu à necessidade do trânsito naquela época. Mas o custo foi alto", afirma a arquiteta e professora de projeto do Mackenzie Anne Marie Summer. Em 2006, ela e outros arquitetos apresentaram um projeto que propõe a ligação da Lapa, na zona oeste, até o Bresser, na leste, por meio de trilhos. E, ao lado desses trilhos, vias expressas ligariam os dois pontos da cidade.

Para Marcelo Rozenberg, vice-presidente do Instituto de Engenharia, a demolição tem de vir acompanhada de propostas que viabilizem o trânsito. "É necessário criar alternativas para remover o Minhocão e melhorar as condições da capital. Isso não requer só dinheiro, mas ação integrada e contínua. É preciso criar um mecanismo alternativo para que a cidade sofra o mínimo possível com a mudança."

CINCO PERGUNTAS PARA...
Paulo Maluf, DEPUTADO FEDERAL E EX-PREFEITO DE SÃO PAULO

1. A ideia do Elevado surgiu em sua gestão?
O Minhocão é projeto e realização 100% do Paulo Maluf. Quando alguém diz que tem um projeto, pergunto se é projeto executivo ou se é rabisco. Posso fazer um projeto ligando Manaus a Porto Alegre e ser uma ideia maluca, sem viabilidade. Como é que se podia ligar a zona oeste a zona leste sem semáforos?

2. Como foi o período de projeto e obras?
O Minhocão foi a melhor obra de engenharia feita na cidade de São Paulo e a mais rápida em execução. Foi feito em um ano e dois meses, porque eu não podia interromper a Avenida São João. Fizemos um canteiro de obras no Largo Duque de Caxias, onde fazíamos as vigas em concreto. À noite, caminhões levavam as vigas até a Avenida São João e, por meio de guindastes, elas eram colocadas no lugar certo.

3. O que acha de demolirem sua obra?
A ideia de demolir o Minhocão é uma tragédia para a cidade. Aliás, não precisa demolir. Por que não fechar o Minhocão 15 dias, para ver o que acontece com o trânsito? Hoje passam por ele mais de 70 mil veículos por dia.

4. Como o senhor avalia o que aconteceu no entorno do Minhocão?
Não vou depreciar a Avenida São João, porque tenho muitos eleitores lá. Mas ela não era um lugar que você podia chamar de chique. Era um lugar bom de se morar, ao lado do centro da cidade. 5. O senhor está dizendo que não houve desvalorização dessa região?

Já era como é. Não piorou nem melhorou. Os prédios possuem apartamentos de 100, de 80, de 60 metros. E antes era um lugar de apartamentos bem populares. Não tinha nada chique.


>> veja matéria original em o Estado de São Paulo

sobre a retirada dos grafites do Minhocão

Retirada de grafites do Minhocão "burocratiza" cidade de São Paulo, dizem urbanistas
Grafiteiros criticam ação da prefeitura e defendem identidade do centro da capital

do R7, por Fernando Gazzaneo, 19/01/2011

Daia Oliver/R7
Empresa contratada pela prefeitura de SP usou tinta 
com acabamento invernizado para impedir que novos 
grafites sejam feitos
Quem transita na região do elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, estava acostumado a ver grafites em seus 92 pilares. Entretanto, uma ação de limpeza da Prefeitura de São Paulo cobriu recentemente com tinta cinza esses espaços, o que provocou críticas de urbanistas e grafiteiros. Para eles, a iniciativa burocratiza o espaço público e retira do centro da capital parte de sua identidade.


A administração municipal pagou R$ 990 mil à GMR Construções pela pintura - o valor também inclui o desentupimento de saídas de água e a troca de tampas dos bueiros da região. No começo deste ano, a reportagem presenciou funcionários da empresa pintando de novo alguns pilares próximos à estação Marechal Deodoro do Metrô, após nova incursão dos grafiteiros.

Até a publicação desta reportagem, a prefeitura não havia atendido a pedido de entrevista com um representante da comissão que define as ações de limpeza pública da cidade.

Para o artista plástico e arquiteto Silvio Dworecki, os grafiteiros fazem uso criativo de uma obra pública.

- O Minhocão alterou para a pior toda a configuração dessa região. É um absurdo o poder público não permitir que os artistas façam um uso criativo desse lugar. Você impede que a expressão popular participe da construção do espaço urbano.

A cor usada para pintar os pilares do Minhocão, uma mescla de cinza e bege, foi definida por urbanistas e grafiteiros ouvidos pelo R7 como "cinza repartição pública”, “cinza delegacia de policia” e “cinza piscinão”, uma referência às obras antienchentes.

"Luta inglória"

O grafiteiro Gego pondera, contudo, que os grafites já nasceram com a certeza de que poderiam ser cobertos com camadas de tinta a qualquer momento. A “sacanagem”, para ele, é destruir trabalhos de artistas que tiraram dinheiro do próprio bolso para colorir uma cidade “concretada”.

- Grafite não é mural e não nem data e nem hora para sumir. Ele é efêmero por natureza, principalmente aqueles que não tiveram autorização da prefeitura.

Para o grafiteiro Thiago Mundano, a pintura cinza é uma "maquiagem superficial”.

- É evidente que a área do Minhocão está degradada, mas gastar quase um milhão em uma reforma pra apagar os grafites e aplicar um verniz protetor em uma obra que está condenada à demolição é um absurdo. É apenas maquiagem pra deixar a cidade com cara de mais limpa. Porque não gastar esse dinheiro para dar melhor qualidade de vida pra centenas de pessoas que vivem embaixo do Minhocão?

No ano passado, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) defendeu que o elevado fosse demolido como forma de revitalizar a região.

Antes da pintura geral, Mundano conta que foram apagadas apenas frases de protesto abaixo das ilustrações que fez em dois pilares.

- A prefeitura vem censurando minhas frases de protesto pela cidade. Deixam o personagem e apagam o texto. Se a prefeitura entende a identidade da cidade como feia e pálida, então a ação recente de pintura está no caminho certo.

Na opinião do urbanista e coordenador da faculdade de Arquitetura de FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), José Renato Kehl, banir o grafite é "uma luta inglória". A ação também é definida por ele como uma forma de higienizar o espaço público.

- A cidade não tem dono. Ela é uma criação coletiva. Em vez de cobrir de tinta, porque não criar mecanismos para fazer que essa participação interessante para todos?

>> link para publicação original

>> veja galeria de imagens em "Prefeitura de SP cobre com tinta grafites do Minhocão", de R7 Notícias

projeto de restauro, castelinho da Rua Apa

R$ 5 milhões. É de quanto precisa o castelinho da Rua Apa
Palco de tragédia familiar em 1937, o imóvel degradado há décadas no centro ganha projeto de restauro. Falta o dinheiro

em O Estado de S.Paulo, por Rodrigo Brancatelli e Vitor Hugo Brandalise, 19/01/2011

Ayrton Vignola/AE
Degradação. Com fama de mal-assombrado,
o castelinho foi tombado pelo Conpresp em 2004
Uma voz fina, um tanto desafinada e um bocado apressada, chamou a atenção do arquiteto Paulo Bastos naquela ligação. "Destino", "ajuda", "projeto", "castelinho", "Apa" era o que dava para entender no meio de tanta afobação da interlocutora. Ontem, tais palavras começaram a ganhar um sentido que pode mudar o destino de um dos endereços mais célebres - e degradados - de São Paulo.

O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) decidiu ontem alterar a resolução de tombamento do melancolicamente famoso castelinho da Rua Apa para que o local passe por inédito restauro. É mais um capítulo na conturbada história do edifício de traços ecléticos, na esquina com a Avenida São João, que corre o risco de desabar. O projeto da reforma foi feito por Paulo Bastos, que, depois do telefonema de Maria Eulina Reis Hilsenbeck, presidente da ONG que ocupa o imóvel, decidiu fazer o trabalho gratuitamente.

"Ela ligou falando que só eu tinha atendido o telefone, que era destino, e eu topei fazer", conta. "Ela está fazendo tudo com a cara e a coragem, buscando patrocinadores para restaurar esse lugar tão importante para a cidade."

Para autorizar a obra, conselheiros vão se reunir com representantes da União para liberar a mudança do tombamento, uma vez que o governo federal ainda é dono do terreno. Com a decisão do Conpresp, o castelinho poderá passar por extenso restauro. O trabalho mais difícil, no entanto, começa agora - Maria Eulina já abriu conta para receber doações para bancar o projeto, que deve passar de R$ 5 milhões. "Vai ser um trabalho de formiguinha, mas já tem gente interessada. Com certeza vamos reerguer o prédio", diz Maria Eulina. Ela é presidente da ONG Oficina Profissionalizante das Mães do Brasil, ocupante do imóvel desde 1997. "Será vitrine para artesãos do mundo inteiro, uma espécie de loja colaborativa. Pode demorar, mas vamos fazer."

O imóvel foi tombado pelo Conpresp em dezembro de 2004 - segundo o órgão, trata-se de um "significativo exemplar da arquitetura residencial praticada na capital paulista nas primeiras décadas do século 20 e é remanescente da primeira ocupação urbana da área". Ele é conhecido também por ser motivo de uma das mais famosas disputas judiciais da cidade. Nos anos 1930, era um lugar elegante e admirado, onde moravam os César dos Reis: Maria, a mãe, Álvaro, o filho mais velho, e Armando, o caçula. Em 12 de maio de 1937, o imóvel virou palco de crime famoso: os três membros da família foram mortos a balas de pistola alemã. Segundo autos da polícia, Álvaro matou o irmão, Armando, e a mãe - e se matou em seguida.

A propriedade foi disputada por herdeiros da família até a década de 1980, quando virou propriedade da União. Em 1996, a ONG Mães do Brasil foi autorizada a ocupar um imóvel anexo. O castelinho, porém, continuou abandonado - e até hoje carrega fama de mal-assombrado.

CRONOLOGIA

História de crime e abandono

1912
Pioneira
Construído em 1912 pela família César dos Reis, na Rua Apa, n.º236, o Castelinho é remanescente da primeira ocupação urbana da região.

1937
Crime
Segundo autos policiais, Álvaro Reis matou a mãe, Maria, e o irmão, Armando, no local, em 12 de maio de 1937. As circunstâncias do crime nunca foram esclarecidas.

1987
Litígio
Disputado por herdeiros, vira propriedade da União.

1996
Novo uso
A União autoriza ONG Mães do Brasil a ocupar o local por 50 anos. Entidade, porém, usa imóvel anexo.

2004
Proteção
Castelinho é tombado pelo Conpresp.

2009
Preservação
Justiça decide que a União deve preservar e reformar o imóvel. Governo afirmou esperar aval do Conpresp.

>> link para matéria original sobre o projeto de restauro do castelinho da Rua Apa

Museu do Minhocão reúne grafites em espécie de galeria virtual

Prefeitura vai usar tinta antipichação nos pilares do Elevado Costa e Silva

A prefeitura anunciou que vai cobrir os 92 pilares do Elevado Costa e Silva com tinta antipichação, que permite a fácil retirada de pinturas, só com água e sabão. Assim, quem sabe um dia o último refúgio dos grafites será a internet, no Museu do Minhocão (www.minhocao.wordpress.com), uma espécie de galeria virtual para vários artistas da região, como Mundano (acima, uma de suas intervenções).

“A prefeitura deveria dar um rumo ao grafite do centro, que é como um museu a céu aberto”, afirma a publicitária Cleo Kesslan, que administra o blog com o namorado, o professor francês Christophe Benavent.

Cleo Kesslan
Museu do Minhocão: grafite de Mundano em site



















>> matéria original em Veja SP, por Mauricio Xavier [Com reportagem de Catarina Cicarelli, Isabella Villalba, Pedro Henrique Araújo e Renata Sagradi], 03/01/2011