uso de crack no Minhocão

Minhocão continua a ser opção aos viciados
Desde o ano passado, quando cracolândia virou alvo de ação da PM e da Prefeitura, usuários de crack têm ocupado elevado quando não há carros

em O Estadao de S.Paulo, por Marici Capitelli, 09/01/2010

Usuários de crack continuam a ir para o Minhocão quando o elevado fecha para carros, das 21h30 às 6h30. Na noite de anteontem e madrugada de ontem, a reportagem encontrou ao menos 50 dependentes químicos na alça de acesso para a Rua Amaral Gurgel, em Santa Cecília, no centro de São Paulo. Desde julho, após o início de uma operação da Polícia Militar e da Prefeitura, os viciados têm se espalhado pelo centro.

O ponto de uso de drogas recebe dois perfis de frequentadores: o que foi retirado das ruas próximas por seguranças particulares pagos por moradores e comerciantes e outro que vem das Ruas Gusmões, Vitória e Guaianases, na cracolândia, ocupada há seis meses por Prefeitura e Estado. Quando o Minhocão é aberto, os drogados circulam entre os carros, atrapalhando os motoristas.

"Eu mesmo peço para eles saírem das ruas e irem para o Minhocão. Lá, eles não correm o risco de serem atropelados e não incomodam", diz Fernando Pereira da Cruz, chefe da segurança particular paga por comerciantes e moradores. Ele reconhece que a medida é paliativa e só transfere o problema de uma rua para outra. Cruz tem dois seguranças que patrulham 24 horas as Ruas Sebastião Pereira, Praça Alfredo Paulino, Ruas das Palmeiras e Ana Cintra. "Conheço a maioria dos usuários e eles concordam em ficar no Minhocão", completa.

Aos 35 anos, um gerente de loja que é usuário há cinco anos, diz que há uma semana passou a usar o elevado para consumir crack. "Está impossível ficar na cracolândia com tanta polícia passando e vim para cá. É mais discreto", diz. Outro usuário, de 21 anos, não concorda. "Só estou aqui porque me tiraram da rua aí da frente. Mas aqui é muito morto, não tem muvuca."

O movimento em cima do viaduto é bem menor do que o registrado na cracolândia. Entretanto, é suficiente para tirar o sono dos moradores de um prédio ao lado da nova concentração. "Eles gritam, brigam e até tiro já ouvi", lamenta Jener Portella, morador do prédio e dono de duas lojas na região. Segundo ele, com a ausência do poder público não resta outra alternativa a não ser pagar vigilantes.

ATUAÇÃO POLICIAL

O coronel Marcos Roberto Charles da Silva, comandante de policiamento da área centro, garante que a corporação já esperava a migração dos usuários da cracolândia para outras regiões. O Minhocão estava entre os locais prováveis, mas era onde menos a Polícia Militar acreditava que eles fossem. "Não apostávamos muito nesse ponto porque eles têm de sair quando a pista é aberta."

Segundo ele, a PM tem feito abordagens no elevado. "Apuramos toda a parte policial, mas esbarramos na questão social, já que essas pessoas são dependentes." O coronel garante que estão previstas ações para o Minhocão nos próximos dias. Com relação à ocupação na cracolândia, Silva diz que a ênfase no trabalho, neste ano, será a reinserção dos viciados na sociedade.

>> veja matéria original sobre uso de crack no Elevado Costa e Silva